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Acabou ! Hoje, dia 1 de junho de 2009 a GM entrou em concordata. Não que dizer falência, que seria a liquidiação oficial da empresa, mas uma refundação. Os credores terão novos prazos de pagamento enquanto ocorre uma reorganização da estrutra acionária da empresa, hoje quase estatal, com participação majoritária do governo dos EUA, Canadá, mais fundos de pensão e saúde dos funcionários e outros credores. O governo dos EUA vão injetar ainda mais dinheiro, algo como 30 bilhões de dólares, e não será mais empréstimo como era antes, mas injeção em troca de capital: ou seja, o governo compra a GM, com o objetivo de vendê-la depois.
É um réquiem para uma empresa que acumulou erros imensos, boa parte deles compartilhados com a sociedade americana: ausência de um plano de saúde estatal, cabendo a empresa o peso da saúde e da aposentadoria dos funcionários, o consumo de carros beberrões, ultrapassados em design e tecnologia, estruturas produtivas inchadas e obsoletas, enquanto os japoneses faziam a lição de casa.
O curioso é que a GM tinha bons exemplos no mundo, mas não os transportou aos EUA. A Opel alemã é um exemplo de alta tecnologia. A GM Brasil tem no conceito da fábrica do Celta a mais produtiva do mundo. Afora, tarde demais.
E o Brasil ? Nosso destino jurídico e financeiro é da GM americana.Nossa ligação tecnológica é com a Opel alemã. O problema é que essas empresas se separaram. A unidade brasileira não é afetada pois é lucrativa, mas esqueça investimentos da matriz. Agora , a GM Brasil terá que tocar seus projetos com dinheiro daqui, o que aliás já vinha fazendo. O projeto Viva foi todo feito com recursos próprios. Os outros projetos continuarão a ser assim. É até provável que dinheiro daqui vá para a Nova GM de lá, para alavancar lucros por lá e acelerar a recuperação da empresa, o que é perigoso: a linha da GM por aqui está meio defasada e se ela não puder botar grana na renovação de seus produtos, vai perder mercado.
E por fim, outro problema a ainda ser resolvido: a Opel agora é separada da GM americana, então como ficam os projetos do Brasil? Corsa, Astra, nosso Vectra ( na verdade, o Astra europeu) são todos projetos da Opel adaptados ao Brasil. Embora a GM ainda tenha 35% da Opel, não fica claro que ainda haverá a transferência destes projetos ao Brasil. É provável que se acelere um processo que já estava em andamento: a criação local de carros por aqui, como é o caso do Celta e da Meriva, já que os projetos europeus são caros demais para nossos padrões. Ainda fica pendente o uso dos nomes da Opel, que são patentes agora da Magna canadense, a nova dona da marca alemã. A GM Brasil já vinha desenvolvendo carros inteiramente por aqui, tanto na engenharia quanto no design, pois tem um centro próprio de desenvolvimento. O Viva é 100% brasileiro. Daqui pra frente, isso será a regra, já que muito provavelmente, tanto dinheiro dos americanos como engenharia dos alemães ficarão distantes.
Com independência financeira e de design e engenharia, a filial brasileira carrega uma enorme responsabilidade: andar com as próprias pernas, ainda por cima carregando os mercados da América Latina, África e Oriente Médio. É um certo motivo de orgulho nacional saber que a parte boa da empresa ficou por aqui. Vamos ver daqui pra frente se ela aguenta o tranco: mais do nunca, a GM Brasil tem que vender carros por aqui, é sua salvação.